Os leitores do editorial de ontem se alegram em saber que Tiger Woods jogou muito bem em Augusta, com dois eagles, três birdies, mas também com três bogeys (consultem o Google).
«A verdade de ontem não pode ser a verdade de hoje». Esta é uma frase sobre a lógica de inferência que pronunciou quarta-feira, a secretária geral do Elysée, a propósito de uma eventual fonte de um rumor misterioso. Ela se uniu ao que o secretário de Estado, Donald Rumsfeld, avançou, quando as armas de destruição massiva de Saddam Hussein não apareceram. «Há coisas que nós sabemos que sabemos. Há desconhecidos conhecidos, quer dizer, há coisas que nós sabemos que não sabemos. Mas, há também desconhecidos desconhecidos. Há coisas que nós não sabemos que nós não sabemos». A estrutura lógica das duas frases nos faz pensar no paradoxo de Wittgenstein, segundo Kripke. Acredita-se que ao fazer uma operação tão simples como uma adição, podemos fazer outra coisa em que os resultados serão os mesmos durante um certo tempo, mas não o tempo todo. Tanto que as duas operações não divergem, há meios de saber qual seguiremos. Uma verdade no instante t, talvez possa ser falsa no instante t + 1 e não sabemos jamais verdadeiramente o que se diz. Além disso, devo corrigir uma afirmação feita ontem. Nossa civilização reconhece, certamente,que as identificações de gender, de gênero, são fundamentalmente equivocadas, mas é para curar as diferenças de idade. Procura-se, aí, sem equívoco, separar o ódio da legalidade. Em algumas sociedades tradicionais, recomenda-se o casamento de filhas púberes, em outras, reprova-se um Presidente do Conselho por ter amantes com menos de 18 anos. O horror da sedução de crianças contamina a adolescência. É porque a Igreja insiste muito sobre a diferença entre a sedução de crianças da de adolescentes. Ela espera desculpar o indesculpável. Decididamente, os equívocos infiltram a linguagem por todo lado.
É baseando-se em pressupostos inversos que a firma Intel vem anunciar, nesta mesma quarta, que havia comercializado aparelhos capazes de ler pensamentos, analisando scanners cerebrais. As zonas cartográficas ativas permitem orientar-se na nomeação efetuada pelo sujeito. Trata-se de pensamentos apresentados como simples, concretos. O aparelho será vendido para permitir aos handicapés, manipularem máquinas, compensando seu handicap. Só podemos nos regozijar. Estas máquinas autorizam, contudo, o sonho de um pensamento que seria inteiramente inscritível no corpo. Sem equivocar-se sobre o saber e sem a fuga da verdade, semblantes e sinthomas coincidiriam sem litoral. É, precisamente, isso, que a tarde da quarta, 28 de abril, não permite sonhar. Em três partes: o analista analisante, o semblante desnudado pelo sinthoma, e o sinthoma desnudado pela arte. Ela reagrupa 34 exposições que fazem, uma a uma, perceber como se alienam e se separam a letra,o significante, o sujeito e o corpo. Vê-se aí, como é possível escrever com seus pés, escutar a voz do silêncio, discernir as equivalências mais bizarras entre o dinheiro e as pérolas do discurso, entre as fórmulas do fantasma e seu além, entre as bordas do semblante e as partes mais delicadas do corpo cortado, como manter um relacionamento fecundo com os equívocos do inconsciente, além do passe. Escutaremos, também, as questões que colocam artistas contemporâneos notórios aos psicanalistas que lhes interrogam.
Domingo, o Forum. Até amanhã.
_____________________________________
Programa da tarde de quarta, 28 de abril
Seis salas sem tradução simultânea
1- O analista analisante
Adriana Rubistein et Ivan Ruiz
L’Inconscient, la musique et la voix
Adriana Rubistein : Una escansión en el camino del saber hacer
Ivan Ruiz : La voz de la Escuela
Françoise Bareau et Patricio Alvarez
Ecrire avec les pieds
Françoise Bareau : La voix du silence ou du regard de l’écriture, en passant par la voix
Patricio Alvarez : Con los pies
Emmanuelle Borgnis-Desbordes et Manuel Zlotnik
L’argent et la perle
Emmanuelle Borgnis-Desbordes : Une perle, au joint le plus intime du sentiment de la vie
Manuel Zlotnik : Fragmentos del proprio analisis
Carmelo Licitra et Lilany Pacheco
Le réel et la passe
Carmelo Licitra : A passagio con l’inconscio dopo la passe
Lilany Pacheco : O tratamento do Real pelo Real sob transferencia
Adèle Bande Alcantud et Martin Egge
Le temps et les limites
Adèle Bande Alcantud : A la limite du semblant
Martin Egge : Ti ci sei messo un po’ tardi
Antonella Del Monaco et Nathalie Wulfing
Les mots de l’Inconscient
Antonella Del Monaco : A partir dall’ Inconscio
Nathalie Wulfing : I can say a few words
2- O semblante desnudado pelo sinthoma
Réginald Blanchet et Carolina Koretzky
Semblant et pragmatique de la cure
Réginald Blanchet : Maintenir la position du semblant
Carolina Koretzky : De la perte à la privation
Silvia Baudini et Michel Grollier
Réveil dans le contrôle
Silvia Baudini : Dos momentos de control
Michel Grollier : Réveil
Gabriela Dargenton et Giorgia Tiscini
La formule et son après coup
Gabriela Dargenton : Inconsciente y post analitico
Giorgia Tiscini : Une formule (V4 L2)
Massimo Termini et Ondina Machado
La jupe et le bord
Massimo Termini : La funzione di un bordo
Ondina Machedo : A saia justa do praticante
Paz Corona et Celeste Viñal
Glisser sans perdre la tête
Paz Corona: Glissement de texte
Celeste Vinal : Perder la cabeza
Catherine Bonningue et Lucíola Macêdo de Freitas
Reconfigurer le semblant
Catherine Bonningue : Hystérie, enforme et sinthome
Lucíola Macêdo de Freitas : Os paradoxos do passe, ontem e hoje
3- O sinthoma desnudado pela arte
Daniela Fernandez et Fabio Galimberti
Le devoir n’est pas l’idéal
Daniela Fernandez : Devoir d’art
Fabio Galimberti : La scrittura dell’Ideale
Fabienne Hulak et Giovanni Lo Castro
Le transsexualisme comme anamorphose
Fabienne Hulak : L’homme aux anamorphoses
Giovanni Lo Castro : Il transessuale : tra sembiante y sinthomo
Thierry Vigneron et Débora Rabinovich
Gracian et Boltanski
Thierry Vigneron : Une exposition bavarde
Débora Rabinovich : De mujeres y semblantes en Baltasar Gracian
Vlasis Skolidis et Chiara Mangiarotti
Deux lettres
Vlasis Skolidis : Etre abonné à l’objet
Chiara Mangiarotti : Lettera a Unica Zurn
Alfredo Zenoni et Mandy Toro
De quoi l’art contemporain est-il le porte manteau ?
Alfredo Zenoni : Semblante, ética y sinthome en el arte contemporaneo
Toro Mandy : De l’autre comme porte-manteau
Tradução: Mª Cristina Maia Fernandes |